O
caminho ignoto tornou-se um emaranhado de corpos viris amontoados de vermes que
o enlaça e, em uma opugnação, enviam-me para longe. Sigo colhendo flores
podres, pútridas de amores que esperam ver a luz brilhosa da continuidade
simbólica das dores mil que existem e vagueiam por mim, senão em ti também.
Confuso,
procurei uma relva para descansar e fugir desse turbilhão de gente doente de
sanidade, a fim de crer que sozinho hei de caminhar sempre, vagarosamente por
campos vastos e sem fé. Sem fé na crença que me condenou de antemão.
O
plantar de sementes regadas ao sal que sai dos olhos turvos de dores mórbidas,
é um sinistro canto de um passáro, que, tremendo o chão ao cair, enterro elas. Um dia
brotaram: Ódio, Vingança e a pequena Indiferença. Corri para tentar escondê-las
do mundo e vejo que não consegui. Desisto então, disse-me. Que vaze aos quatros
cantos, tudo o que este terreno infértil semeado aos prantos! Que seja expelido
furiosamente sem misericórdia.
Obumbrada
as coisas duramente fustigadas, abrasadas e inutilizadas pela ganância gulosa
de teu pensamento tosco e ruidoso de pavores gélidos criados desdenhosamente,
pintadas no dia-a-dia com cores que desconheço a existência da origem.
Carcomidas
todas as esperanças, caímos de peito aberto, como uma bala que transpassa a
carne moribunda e entorpece a mente com memórias de coisas que nunca mais
poderemos exprimir, de podridões vis, hoje senis, amarguradas no escuro de um
quarto desfalecido de sonhos pequenos, endurecido de embalos do vai e vem da
rede que apóia teu singelo esbelto corpo vasto e estourando de desejos
soturnos, tu arquejas e gozas num orgasmo centesimalmente fugaz, que nem de
longe cheira ao prazer de ter alguém que desperte em teu corpo ondas grandes de
arrepios convulsivos, envaidecidos de uivos vivos de alegria chamuscada por
idéias friamente transpostas em imagens que justamente nesta hora mostram o que
te constitui intimamente nas ligações mais profundas, reclinantes de anseios.
És.
Apostastes a alma sem valor comigo e então, seguimos pudicamente uns trilhos
abismais solvidos em rígidos verdes atenuantes, qual o teu riso torpe. E fiquei
olhando o céu explosivo de onde caímos. Mas isto era dantes de sairmos de
órbita da carga existente nos riachos quebrados de dores lodosas, dos rumores
de que voltaremos a recomeçar sem mágoas colossais por coisas triviais que nem
merecem serem relembradas por palavras distorcidas por sopros de ares quentes
de dúbias sensações extraviadas sepulcramente do original que esvoou de
broqueis marrons.
Teus
olhos enevoem, de embaraçar ferozmente a alma de quem tenta decifrar-te, oh
criação de tudo, espelho que reflete guturalmente as criaturas que tentam
possuir-te malevolamente na ebriedade causticante do fogo alusivo de espasmos
violentos e fluidos asquerosos que saem de corpos purulentos que tecem planos
obscuros na luz, para enlaçar-te a alma num sóbrio dia de domingo e levar-te a
via crucies e, no fim, verás o calvário mortuário das palavras que convêm
apenas nestas horas poderosas que abatem os mais sagazes pensamentos
conceituais, causando a queda daqueles que se achavam intocáveis das podridões
contaminadas das dobras de dois corpos nus, suados e tombados como dois
inimigos que conseguiram uma trégua antes da voluptuosa morte.
Artifícios
calcados sigilosamente, revelados a meia luz, inebriantes aos que deles
compartilham. Como saber? Farpas cravadas ao lombo saliente, esparso por
carinhos desdenhosos, dorso de pancas. Sede. Fome. Frio. E tudo isso na mesma
reminiscência febril. Caudaloso, ajo em hastes metálicas que urgem
vertiginosamente, lapidando nestas margens robustos artefatos de complexidade que
não entendo qual o tempo perigoso de vontades e toucadas penetráveis que
corroboram a luz vermelha que te recobrei a atenção nesta escuridão que tu
forçaste ao fechar a luz. O quarto respingado de água fria da chuva que caiu a
noite toda e que nela tu tomaste banho para limpar-te de excrementos e outros
sujos mentais.
Agora
preso. Preso. Onde fostes que não te acho? Alamedas conspurcadas por gotejas de
águas cristalinas intermitentes. Conduzido à trilha do atavismo vicioso das
coisas imediatas, Flamejo em águas insinuantes, águas sujas por traições,
mortes e saudades estúpidas.
És.
Sumiram de tuas feições os contornos ungidos com maestria ignóbil de técnicas
ancestrais perdidas pelos milênios transpostos pelas urgências criadas e
adotadas pelos seres, oh humanos! Conserve os impulsos que fazem milagres sem
que vejas. Pare.
És. Ele
agora espanta o meu espírito para longe, mas voltarei a te encontrar ainda
nesta manhã fria a caminho da orla idílica de conversas bobas, reuniões de
vivas pálidas sombras, recordativas sensações esmaecidas de lumbres cheiros e
ventanias que moldam as árvores, causando em ti uma estúpida saudade da menina
que estava e hoje não está mais a mover-se de passo a passo dentre a grama alta
que molha os pés com a água suja de terra.
Mas o
sol está quase aparecendo no extremo e tu, ainda escreves o que sussurro ao teu
ouvido. Pretensão tua. Deite-se, por favor... Mas antes, beba uma água
escutando o canto dos pássaros, dos quais tu nunca saberás o nome.