segunda-feira, 4 de junho de 2012

Partida¹

Essa escuridão que dói-me os olhos
Dói-me os olhos tambem partir

São lágrimas... Lágrimas de ausência
por não estares aqui

Dói-me os olhos, além, de te ver ir.
Dói-me a alma saber que não voltarás

É o acordar no meio da noite
e não poder abraçar a quem se ama
sabendo que só resta o susto do sonho ruim.

Ainda assim, doi-me mais ainda
saber que tua partida não é sombria.
E sim, uma simples partida.






¹ Esse texto não é completamente meu. Foi retirado de um diálogo que tive com a Ana Júlia (http://prepsicopata.blogspot.com/).

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Sintonia


O caminho ignoto tornou-se um emaranhado de corpos viris amontoados de vermes que o enlaça e, em uma opugnação, enviam-me para longe. Sigo colhendo flores podres, pútridas de amores que esperam ver a luz brilhosa da continuidade simbólica das dores mil que existem e vagueiam por mim, senão em ti também.
Confuso, procurei uma relva para descansar e fugir desse turbilhão de gente doente de sanidade, a fim de crer que sozinho hei de caminhar sempre, vagarosamente por campos vastos e sem fé. Sem fé na crença que me condenou de antemão.
O plantar de sementes regadas ao sal que sai dos olhos turvos de dores mórbidas, é um sinistro canto de um passáro, que, tremendo o chão ao cair, enterro elas. Um dia brotaram: Ódio, Vingança e a pequena Indiferença. Corri para tentar escondê-las do mundo e vejo que não consegui. Desisto então, disse-me. Que vaze aos quatros cantos, tudo o que este terreno infértil semeado aos prantos! Que seja expelido furiosamente sem misericórdia.
Obumbrada as coisas duramente fustigadas, abrasadas e inutilizadas pela ganância gulosa de teu pensamento tosco e ruidoso de pavores gélidos criados desdenhosamente, pintadas no dia-a-dia com cores que desconheço a existência da origem.
Carcomidas todas as esperanças, caímos de peito aberto, como uma bala que transpassa a carne moribunda e entorpece a mente com memórias de coisas que nunca mais poderemos exprimir, de podridões vis, hoje senis, amarguradas no escuro de um quarto desfalecido de sonhos pequenos, endurecido de embalos do vai e vem da rede que apóia teu singelo esbelto corpo vasto e estourando de desejos soturnos, tu arquejas e gozas num orgasmo centesimalmente fugaz, que nem de longe cheira ao prazer de ter alguém que desperte em teu corpo ondas grandes de arrepios convulsivos, envaidecidos de uivos vivos de alegria chamuscada por idéias friamente transpostas em imagens que justamente nesta hora mostram o que te constitui intimamente nas ligações mais profundas, reclinantes de anseios.
És. Apostastes a alma sem valor comigo e então, seguimos pudicamente uns trilhos abismais solvidos em rígidos verdes atenuantes, qual o teu riso torpe. E fiquei olhando o céu explosivo de onde caímos. Mas isto era dantes de sairmos de órbita da carga existente nos riachos quebrados de dores lodosas, dos rumores de que voltaremos a recomeçar sem mágoas colossais por coisas triviais que nem merecem serem relembradas por palavras distorcidas por sopros de ares quentes de dúbias sensações extraviadas sepulcramente do original que esvoou de broqueis marrons.
Teus olhos enevoem, de embaraçar ferozmente a alma de quem tenta decifrar-te, oh criação de tudo, espelho que reflete guturalmente as criaturas que tentam possuir-te malevolamente na ebriedade causticante do fogo alusivo de espasmos violentos e fluidos asquerosos que saem de corpos purulentos que tecem planos obscuros na luz, para enlaçar-te a alma num sóbrio dia de domingo e levar-te a via crucies e, no fim, verás o calvário mortuário das palavras que convêm apenas nestas horas poderosas que abatem os mais sagazes pensamentos conceituais, causando a queda daqueles que se achavam intocáveis das podridões contaminadas das dobras de dois corpos nus, suados e tombados como dois inimigos que conseguiram uma trégua antes da voluptuosa morte.
Artifícios calcados sigilosamente, revelados a meia luz, inebriantes aos que deles compartilham. Como saber? Farpas cravadas ao lombo saliente, esparso por carinhos desdenhosos, dorso de pancas. Sede. Fome. Frio. E tudo isso na mesma reminiscência febril. Caudaloso, ajo em hastes metálicas que urgem vertiginosamente, lapidando nestas margens robustos artefatos de complexidade que não entendo qual o tempo perigoso de vontades e toucadas penetráveis que corroboram a luz vermelha que te recobrei a atenção nesta escuridão que tu forçaste ao fechar a luz. O quarto respingado de água fria da chuva que caiu a noite toda e que nela tu tomaste banho para limpar-te de excrementos e outros sujos mentais.
Agora preso. Preso. Onde fostes que não te acho? Alamedas conspurcadas por gotejas de águas cristalinas intermitentes. Conduzido à trilha do atavismo vicioso das coisas imediatas, Flamejo em águas insinuantes, águas sujas por traições, mortes e saudades estúpidas.
És. Sumiram de tuas feições os contornos ungidos com maestria ignóbil de técnicas ancestrais perdidas pelos milênios transpostos pelas urgências criadas e adotadas pelos seres, oh humanos! Conserve os impulsos que fazem milagres sem que vejas. Pare.
És. Ele agora espanta o meu espírito para longe, mas voltarei a te encontrar ainda nesta manhã fria a caminho da orla idílica de conversas bobas, reuniões de vivas pálidas sombras, recordativas sensações esmaecidas de lumbres cheiros e ventanias que moldam as árvores, causando em ti uma estúpida saudade da menina que estava e hoje não está mais a mover-se de passo a passo dentre a grama alta que molha os pés com a água suja de terra.
Mas o sol está quase aparecendo no extremo e tu, ainda escreves o que sussurro ao teu ouvido. Pretensão tua. Deite-se, por favor... Mas antes, beba uma água escutando o canto dos pássaros, dos quais tu nunca saberás o nome.